Moçambique foi oficialmente removido da chamada “grey list” da Financial Action Task Force (FATF) ou seja, da lista de jurisdições sob monitorização acrescida por indicadores estratégicos de combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo.
A inclusão nessa lista remontava a 22 de Outubro de 2022, quando a FATF avaliou que o país apresentava deficiências significativas no seu regime de prevenção de branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo (AML/CFT).
Por outro lado, o governo moçambicano seguiu um plano de acção com 26 recomendações da FATF, das quais declarou ter cumprido todas ou quase todas até meados de 2025.
No plenário da FATF em Outubro de 2025, Moçambique foi retirado da lista por voto unânime, sinalizando que os parceiros internacionais reconheceram os progressos.
Mas o que é realmente esta lista, e por que está ela a gerar tanto interesse?
O que significa estar na lista do FATF
Estar na “grey list” implica que um país enfrenta monitorização reforçada, o que pode acarretar:
- custos mais elevados de financiamento internacional e maior diligência por parte de bancos e investidores;
- percepções de risco acrescido junto de parceiros internacionais;
- potenciais entraves no comércio exterior ou acesso a capitais.
Por outro lado, ser removido desta lista costuma gerar confiança renovada e pode abrir portas a novas oportunidades económicas.
Moçambique, seu ganho com esta decisão
A saída da lista traz diversas implicações directas e indirectas para Moçambique — algumas de curto-prazo, outras de médio e longo prazo.
Ganhos imediatos
- Melhoria da reputação internacional do país como actor económico sério e comprometido com standards globais.
- Possível redução de prémios de risco por parte de investidores estrangeiros e instituições financeiras.
- Abertura para novos fluxos de capital, financiamento de projectos e parcerias internacionais.
- Maior facilidade para empresas moçambicanas operarem no exterior ou fazerem negócio com parceiros que exigem conformidade AML/CFT.
Impactos ao nível operacional e institucional
- As instituições moçambicanas de supervisão financeira reforçadas demonstram agora credibilidade.
- A legislação e os mecanismos de supervisão passaram por upgrades, nomeadamente no âmbito de seguros, fundos de pensão, entidades sem fins lucrativos, entre outros. aman-alliance.org+1
- Incentivo para manutenção de boas práticas a longo prazo afinal, sair da lista não significa relaxar, mas continuar a consolidar-se.
Exemplos práticos de mudança
- Uma empresa moçambicana que procurava financiamento externo agora pode apresentar o facto de o país já não estar sob monitorização acrescida como factor de credibilidade.
- Bancos internacionais poderão rever limites, taxas ou exigências para contabilidade e relatórios de AML/CFT em operações com Moçambique.
- Projectos de investimento estrangeiro em sectores como infra-estruturas, energia ou agricultura poderão «pesar» o factor reputacional como activo.
Os desafios que permanecem e porque isto não é o fim da viagem
Embora a saída da lista seja um marco positivo, ela não encerra todos os desafios. Pelo contrário: abre uma nova fase em que a sustentabilidade das reformas será testada.
Riscos e pontos de atenção
- A FATF continuará a monitorizar o país para garantir que as medidas não são apenas formais, mas efectivas. Por exemplo: é preciso manter actualizada a supervisão de entidades sem fins lucrativos, fazer mapeamento de riscos, garantir formação adequada aos agentes do sistema financeiro.
- A perceção de risco pode levar algum tempo a dissipar-se — investidores e instituições levarão em conta o histórico.
- Reformas institucionais necessitam de recursos humanos e técnicos constantes; caso haja retrocesso ou relaxamento, o risco de voltar à lista existe.
- A concorrência internacional ainda vê Moçambique como território com alguns desafios uma saída da lista não elimina automaticamente todos os obstáculos ao investimento ou ao financiamento.
O que Moçambique deve manter para capitalizar esta conquista?
- Manter a transparência nos relatórios, mostrar resultados concretos de supervisão e cumprimento de regras.
- Continuar a investir em formação, infra-estruturas de supervisão e sistemas de inteligência financeira.
- Usar a nova credencial como elemento de marketing país: atrair investidores, mostrar estabilidade regulatória, melhorar ratings.
- Trabalhar na integração com mercados regionais e globais, aproveitando o «sinal verde» que a retirada da lista representa.
Qual o impacto para o cidadão, empresa e investidor?
Para o cidadão comum
Este tipo de identificação internacional tem reflexos indirectos:
- Potencial de aumento de emprego e de novos projectos de investimento que trazem oportunidades locais.
- Melhor reputação financeira do país pode levar a taxas de juro mais acessíveis para créditos ou financiamento externo.
- Confiança aumentada no sistema bancário e financeiro.
Para as empresas moçambicanas
- Empresas exportadoras ou ligadas ao comércio internacional podem usar esta melhoria como argumento de competitividade.
- Facilitação de parcerias ou joint-ventures estrangeiras que exijam conformidade regulatória.
- Melhor acesso a financiamento externo ou linhas de crédito internacionais.
Para o investidor estrangeiro
- Sinal de que o país está a alinhar-se com standards internacionais de AML/CFT um factor de confiança.
- Redução de barreiras reputacionais e possivelmente de custos associados à diligência de risco.
- Potencial de aproveitar condições mais favoráveis de investimento em mercados emergentes, com Moçambique agora com “menos risco oficial”.
O ponto de viragem e o que vem a seguir
A remoção de Moçambique da lista de monitorização da FATF não é apenas simbólica — é um marco que pode transformar o ambiente económico e financeiro do país.
Mas, tal como numa maratona, sair da lista é apenas a entrada na reta final de um percurso exigente. Também implica manter o ritmo, não abrandar, para que a conquista seja consolidada e traduzida em benefícios reais e duradouros.
O país ganhou agora uma oportunidade de ouro para se reposicionar, atrair investimento e reforçar o seu sistema financeiro. Depende agora de todos — governo, instituições, sector privado e sociedade civil — manterem o alinhamento entre palavra e acção.
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